sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Namoro a Distância

Esses dias são sempre assim. Vontade inquietante, coração palpitante. Desprezo o resto, o tudo, o sol e a chuva. Desprezo o tempo. Finjo ignorá-lo, para ele passar mais rápido. Sou disconexo nas palavras, os pensamentos insistem em não engrenar. Igonoro o dia. Espero o outro chegar. Espero ela chegar.

E ela vem. Sorriso contagiante, olhos brilhantes. Não há nebulosa que resista a esse brilho e não saia, espantada, para sol e lua darem o ar da graça.

Vem, de vestido estampado e colorido. Me lembra um velho samba. Suas curvas dão o contraste exato, perfeito a sua face rosada e seus longos cabelos. Perfeição áurea, que faz eu deixar o juízo d’alma partir junto com a fumaça daquele ônibus.

Já tenho o que preciso. O coração só acelera agora nos momentos de tensão, os tais momentos desejados e provocados pelos olhares. Do mais, calmo e sereno. Deita a alma na cama junto com o próprio corpo, e com o corpo dela, vendo as horas passarem, incertas, imprecisas. Cabeça roçando no peito, afagos pausados no cabelo. Cheiro, mãos, boca. Sono. Uma música tocando no inconsciente de cada um. Só velho bandido sabe o valor que tem momentos como esse.

Reza a lenda que o tempo nada mais é que um garoto de amor não correspondido, morrendo de inveja dos casais enamorados. E essa inveja o corrói, e o faz correr rápido, tão rápido, que passa de maneira alucinante. Faca no peito lancinante, essa criatura é.

E na guerra silenciosa entre tempo e desejo, o invejoso vence. O fim de semana acaba. Maquiagem arrumada, cabelo penteado, tristeza aparente. Por que separar duas almas em tamanha sintonia, meu Deus?

Os sorrisos se encontram pela última vez. Declarações tímidas e contidas, para não chamar atenção de transeuntes. Mas na hora do beijo… Ah, o beijo. Quente, ardente, assim como seu abraço. Ignora-se transeuntes, tempo, ônibus, tristeza, batom e maquiagem. Despedida é um prato tão amargo, que se comer frio, mata. Prefiro cozinhá-la, a fim de melhor digestão.

O vento bate forte naquela rodoviária. Talvez pra levar o desejo embora. Talvez pra trazer a saudade de volta. E junto a vontade inquietante, o coração palpitante, o desprezo ao resto e ao tudo. Até o próximo fim de semana.